terça-feira, 26 de fevereiro de 2019

SobreViver


Tenho sido pouco esperançosa, mas ainda que demore, muitos vão ser obrigados a abrirem os olhos. Alguns podem não acordar quando a água está quase tapando o ar, mas é preciso que o ar falte totalmente e estejam sendo afogados para surgir o instinto de sobrevivência que todos temos segundos antes de estarmos à beira da morte, aqueles segundo os quais lutamos para salvarmos nossas vidas.
É um engano dizermos que somos um povo alegre e feliz, se tivéssemos auto estima suficientemente trabalhadas, seriamos um povo que jamais aceitaríamos vivenciar o cenário político atual, não deixaríamos ser levados por tantos enganos e farsas e já estaríamos fortemente unidos contra a aprovação de uma reforma previdenciária tão cruel.
           Toda marca do desrespeito com nosso povo, toda a falta de cuidados na saúde, na educação, tudo o que foi negado a quem mais contribui para o país se manter, está sendo registrado em cada corpo, em cada memória, em cada passo de quem mais sofre e vivência a precariedade. Não é difícil entender que, diante do cenário atual tão caótico, exista uma personificação de um mito em que grande parte da população depositou todas as fichas acreditando em milagrosas mudanças.
Ainda que pouco esperançosa, digo que se há total desrespeito com a vida de um povo, as frustrações começam a surgirem, as revoltas emergirem e fica difícil a ideia de mito se manter diante de promessas não cumpridas, diante de tantos descasos e maus tratos que estão sendo carregados por gerações.
É difícil saber o limite da cada um, entender até onde se encontram disposições e conformações para a busca de mudanças, além de fatores internos, essas ações dependem também de fatores externos e dos sentimentos que a população carrega porque nosso corpo reage as marcas do tempo, nosso povo sente coletivamente descasos semelhantes, e o embrutecimento, ao mesmo tempo que é capaz de alienar e cegar um povo, é capaz de fazê-lo gritar e agir de forma transformadora. 
Todos os dias vemos diversas reações acontecerem em micro esferas, observem as revoltas das populações nos hospitais, a força da mulher que enfrenta a polícia para defender sua família, as diversas manifestações nos morros e becos das favelas no RJ e etc. Vemos todo um povo sofrendo por causas muitos semelhantes e dando a cara a bater sem medo da morte porque consideram que não há muito a perder, a não ser suas próprias vidas , as quais penso serem muito valiosas.
Ainda que demore para se tomar consciência desse processo, desse instante que clareia, ele vem, principalmente diante de descasos em cima de descasos e farsas em cima de farsas.
Torço para que não passe tempo demais, pois pode ser que não voltemos a vida e fiquemos só com a marca do instante e da vontade de termos tentado mais uma vez e não termos conseguido.







segunda-feira, 10 de dezembro de 2018

Respirar


    Uma simples respiração pode nos trazer reflexões. Inspirar e expirar o ar é um gesto pequeno, delicado mas acompanha muitas complexidades. Uma vez que começamos a nos perceber, mesmo que fisicamente, estamos tomando atitudes iniciais de auto percepção. O aforismo "Conhece-te a ti mesmo!", nos remete que, chegar ao autoconhecimento, estabelecendo a harmonia com as coisas e as pessoas ao nosso redor, com o mundo a nossa volta, seriam atitudes concebidas por grandes sabedoras e sabedores. Na esfera micro, nas pequenas relações cotidianas , podemos por momentos buscar usufruir das vivências de ternura, de harmonia, de amor por si, pelas pessoas, pela natureza. Como praticante de yoga, digo que cada aula opera em mim muitos efeitos positivos com relação ao autoconhecimento, a ter maior consciência do meu próprio corpo e de alguma maneira a procurar a harmonia em meu viver, mas sem querer tirar a importância de práticas que tem me feito muito bem, queria dizer que estamos um pouco distantes de mantermos uma constância de harmonia entre humanos no nosso planeta. Basta olharmos como temos nos tratado. Quem dera as medidas paliativas nos tornassem seres humanos preenchidos e com postura sempre favorável à vida e a felicidade. Para que haja vida, há de se ter forças para seguir em frente e lutar contra as adversidades que somos obrigadas e obrigados a lidar porque nem sempre a respiração flui e por vezes entala na garganta e o alívio da expiração não vem. As vezes a cabeça dói e não queremos saber das soluções, queremos apenas um tempo para que possamos nos recompor e continuar o ciclo da vida que se abre e fecha a todo momento, que nos faz fortes, fracas e fracos,  guerreiras e guerreiros, que nos faz cair e nos levanta. Dizem que só não podemos desistir, mas eu digo que não somos obrigadas e obrigados a seguir com tudo sempre. Há um tempo, li o livro da escritora Eliane Brum "A Menina Quebrada" e ela dizia em um de seus textos, que a vida nos trás muitas oportunidades que deveríamos sempre aproveitar, mas que nem sempre deveríamos procurar levar tudo até o fim a qualquer custo, principalmente se o tudo faz parte de algo que não nos faz bem. As vezes, como disse Eliane Brum, é preciso fechar portas ao invés de somente querermos abrí-las. Quando pensei sobre o que escrever nesse espaço dançar as palavras, me veio a inspiração de falar de algo que tem relação com o que somos e como estamos caminhando e nos percebendo. Nossas ações e autoconhecimento, não estão isolados do mundo, somos seres que precisamos uns dos outros para tornarmos nossa casa Terra um lugar habitável com condições mínimas de dignidade, que tragam boa saúde para quem precisa, boa educação e sobretudo boa alimentação. Podemos praticar as mais diversas atividades e filosofias que tentam nos restaurar de maneira muito positiva, mas embora nos revigore, nem sempre será a solução para tudo. Podemos nos sentir muito bem com as diversas práticas corporais, o jiu-jitsu tem me feito descobrir meu espírito guerreira e o recomendo para todas as pessoas. Contudo, a vida pode exigir de nós mais do que prevemos. Lutar é imprescindível, mas se a sociedade segue um caminho inverso da nossa luta, é compreensível que não sejamos como os monges tibetanos. Temos sempre que procurarmos ficar bem, para nosso próprio bem estar de maneira geral, mas se não ficarmos, não tem problema. Podemos nos permitir cair no limbo de vez em quando, mas que não seja um limbo onde não haja saída e se possivel que alguém nos dê a mão. Viver não é pra qualquer um, enfrentar as realidades de forma a superá-las e transformá-las requer de nós insistência, inteligência, conhecimento de si e do mundo ou então seremos intolerantes, cegos em tiroteios. Acredito que queremos o melhor para nossas vidas, e para viver o melhor é preciso amor. O amor pela vida, pelo que se gosta de fazer, amor pelas pessoas que nos são importantes e que estão caminhamdo com a gente nesta jornada. Infelizmente não somos todos que temos a capacidade de amar e de entender o que é amar. O amor é aprendido e reaprendido a todo momento. Nas vivências de nossas vidas descobrimos que o amor pode ser expresso de infinitas maneiras que nem sempre vão corresponder ao que vem de encontro ao que entendemos e aprendemos sobre. Caso sejamos seres fixos em ideias pré concebidas sobre o que é essa lei universal - o amor - vamos sofrer bastante nessa arte. Ao existir tantas incompreesões sobre o ato de amar, amar a si mesmo e uns aos outros, não é dificil entender o porquê nossa casa Terra estar tão mal cuidada. Existe muita complexidade no ato de existir e é compreensível que buguemos por vezes. Mas desejo que todas complexidades nos gere buscas, amor, caminhos, conhecimentos, superações e muitas respirações.

SobreViver

Tenho sido pouco esperançosa, mas ainda que demore, muitos vão ser obrigados a abrirem os olhos. Alguns podem não acordar quando a água ...