Tenho sido pouco esperançosa, mas ainda que demore, muitos vão ser
obrigados a abrirem os olhos. Alguns podem não acordar quando a água
está quase tapando o ar, mas é preciso que o ar falte totalmente e
estejam sendo afogados para surgir o instinto de sobrevivência que
todos temos segundos antes de estarmos à beira da morte, aqueles
segundo os quais lutamos para salvarmos nossas vidas.
É um engano dizermos que somos um povo alegre e feliz, se tivéssemos
auto estima suficientemente trabalhadas, seriamos um povo que jamais
aceitaríamos vivenciar o cenário político atual, não deixaríamos
ser levados por tantos enganos e farsas e já estaríamos fortemente
unidos contra a aprovação de uma reforma previdenciária tão cruel.
Toda
marca do desrespeito com nosso povo, toda a falta de cuidados na
saúde, na educação, tudo o que foi negado a quem mais contribui
para o país se manter, está sendo registrado em cada corpo, em cada
memória, em cada passo de quem mais sofre e vivência a
precariedade. Não é difícil entender que, diante do cenário atual
tão caótico, exista uma personificação de um mito em que grande
parte da população depositou todas as fichas acreditando em
milagrosas mudanças.
Ainda que pouco esperançosa, digo que se há total desrespeito com a
vida de um povo, as frustrações começam a surgirem, as revoltas
emergirem e fica difícil a ideia de mito se manter diante de
promessas não cumpridas, diante de tantos descasos e maus tratos que
estão sendo carregados por gerações.
É difícil saber o limite da cada um, entender até onde se
encontram disposições e conformações para a busca de mudanças,
além de fatores internos, essas ações dependem também de fatores
externos e dos sentimentos que a população carrega porque nosso corpo reage as marcas do tempo, nosso povo sente coletivamente
descasos semelhantes, e o embrutecimento, ao mesmo tempo que é capaz
de alienar e cegar um povo, é capaz de fazê-lo gritar e agir de
forma transformadora.
Todos os dias vemos diversas reações acontecerem em micro
esferas, observem as revoltas das populações nos hospitais, a força
da mulher que enfrenta a polícia para defender sua família, as
diversas manifestações nos morros e becos das favelas no RJ e etc.
Vemos todo um povo sofrendo por causas muitos semelhantes e dando a
cara a bater sem medo da morte porque consideram que não há muito a
perder, a não ser suas próprias vidas , as quais penso serem muito
valiosas.
Ainda que demore para se tomar consciência desse processo, desse
instante que clareia, ele vem, principalmente diante de descasos em
cima de descasos e farsas em cima de farsas.
Torço para que não passe tempo demais, pois pode ser que não
voltemos a vida e fiquemos só com a marca do instante e da vontade
de termos tentado mais uma vez e não termos conseguido.
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